domingo, 4 de outubro de 2015

Reunião do GEPASM de 03 de outubro - Artes e Construção de Paz

Continuando as discussões sobre Arte e Paz, na sexta que passou discutimos diversos textos:


O primeiro, de Heather Fryer, Robbie Lieberman and Andrew Barbero, que é uma introdução a todo o número da revista Peace & Change, de Janeiro de 2015: Introduction: Within the Folds of the Complex: Art, Activism, and the Cultural Politics of Peacemaking, muito interessante.

Buscando fazer alguns apontamentos sobre o artigo, ele liga a necessidade de se estudar o ativismo político às manifestações artísticas de construção de paz, já que a paz tem estreita ligação com a justiça. Isso se manifestou em diversos momentos históricos citados pelos autores. Além disso, os autores localizam a inexistência de linha divisória entre artista e ativista - um relacionamento simbiótico- , ainda mais quando se aborda a temática da paz e da justiça.

Dentro das abordagens do artigo, mostrou a necessidade de a arte causar um efeito de estranhamento (citando Bertold Brecht) na audiência, que é impactada a ter consciência efetiva e mover-se, indignada. A busca é que, quem participar da experiência estética, seja confrontado a fazer escolhas.

Entretanto, na prática artística crítica não há vantagem em contraposições frontais; pelo contrário, o objetivo é trabalhar entre as dobras do sistema de poder. Isso lembra muito a contraposição no campo da estratégia, de Clausewitz (ataque frontal) versus Lidell Hart (guerrilha, ataque no ponto frágil). Agindo entre as dobras, os artistas amplificam as vozes dos marginalizados, redefinindo a experiência das pessoas dentro das estruturas hegemônicas de poder (p. 8), interrompendo a inconsciência e a desumanização das ações ou inações, oriundas da ação do poder hegemônico brutal e irracional (p. 9).

Para atuar entre as dobras, fugindo da estratégia perdedora de ser muito visível, ou declarativo, é necessário ao artista/ativista encontrar a dobra dentro do sistema, que é "um ponto de interrupção da ordem interna, uma irregularidade do funcionamento rígido" (p. 7). Explorar e se mover por essas dobras exige esperteza e flexibilidade.

O como buscar esse ponto de dobra é que gerou discussão entre o grupo na sexta-feira, porque requer uma profunda compreensão da realidade da vida das questões da violência, da agressão, de cada comunidade/cultura a ser trabalhada pela performance artística. Se não cairemos em análises simplistas, com ataques performáticos frontais, sem nenhum êxito.

Por outro lado, outro texto produziu uma resposta de como trabalhar com os conflitos e a violência, na construção de paz, não pela performance artística, mas pelo ensino de diversas expressões artísticas aos jovens em situação de risco. No texto de Caballero Mariscal, Miguel Ángel, Humor, performances y expresión corporal como técnicas de comunicación con menores en situación de riesgo, na revista En la Calle (2010) onde o autor, um palhaço, pedagogo e educador de rua, expõe como o humor, a expressão corporal e as técnicas criativas ajudam a conectar e libertar. O sorriso, o riso de si mesmo, é o início do processo liberador e criativo numa sociedade sem perspectivas e repressora. Porque denuncia as verdadeiras possibilidades e limitações, produzindo auto-estima.

O autor apresenta diversas ideias que o grupo Yoniclowns colocou em prática com jovens em situação de risco, como a abordagem de diversas situações de violência em murais que serão expostos; por meio de cenas de haloween utilizando o binômio terror/humor, momento em que os jovens perdem a timidez, lidando com o medo, por meio do humor.

Outras práticas artísticas permitem que o jovem faça a distinção entre a etiqueta social e a essência das pessoas, por meio de conversas e interações com as "autoridades" representadas pelos atores, tais como banqueiros, narcotraficantes, políticos, comerciantes, dentre outros. Mais uma prática ocorre por meio da "criatividade paranoica", trocando de cenas as mais diversas, as crianças interpretam, riem de si e das situações, trabalhando a imaginação e a criatividade. 

Mais uma possibilidade é a utilização e exploração das expressões faciais, trabalhando as emoções e os impulsos, com maquiagens, espelhos e gravações das expressões. Após esse trabalho, os jovens analisam as gravações e suas expressões, comentando, discutindo e se analisando.

Nas noites, esses educadores, em contato contínuo com os jovens, comentam o dia, aspectos positivos e negativos, junto com canções, imagens, poesias e reflexões.

As possibilidades de trabalhar o lúdico e as performances artísticas são as mais variadas, surgindo das capacidades artísticas do educador, indo ao encontro das necessidades e capacidades das crianças. Nisto, há um campo vasto a explorar, com certeza.

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