Aproveitando
o clima do verão no Brasil, o texto escolhido faz parte da edição Summer 2015 Insights Newsletter do United States Institute of Peace (USIP),
que visa ampliar as perspectivas sobre a teoria e a prática no campo da
Construção de Paz.
Essa edição divide-se basicamente
em três partes. A primeira parte é denominada de State
of the Art, onde são apresentados dois textos: The Arts and Peacebuilding: An Emerging Approach por Katherine Wood
e Arts and Building Peace: Affirming the
Basics and Envisioning the Future por Cynthia Cohen. A segunda parte é a Peace Arena, que é uma abertura de espaço para fomentar o debate
entre pesquisadores e praticantes da Construção de Paz, nessa edição com a
discussão denominada Theory vs. Practice
sobre uma citação de Michael Shank e Lisa Schirch em Strategic Arts-Based Peacebuilding. Já a terceira e última parte,
denominada de In Practice, traz mais
dois textos com análises de situações reais de uso das artes para a Construção
de Paz, sendo eles: Inspiring Youth in
Burundi and the Great Lakes: A Creative Approach to Peacebuilding por Anaïs
Caput e Bond Street Theatre: Fraud
Mitigation by Educating the Electorate por Barmak Pazhwak.
A partir daqui foquemos em Arts
and Building Peace: Affirming the Basics and Envisioning the Future, texto
escrito por Cynthia Cohen. Inicialmente,
a autora ressalta que há potencial nas mais variadas formas de expressão artística
(literatura, música, fotografia, teatro, dança, etc.) para fomentar o campo da
Construção da Paz.
Cynthia Cohen (Imagem: Brandeis University) |
Então, Cohen menciona três formas
de emprego da abordagem artística: Com base na comunidade, visando transformar
aqueles envolvidos diretamente com a arte; com base no artista, focando nas
virtudes de um artista ou num conjunto deles para que eles possam promover
transformações em outrem; ou de forma coletiva que objetiva a transformação da
comunidade de maneira mais ampla.
No entanto, de acordo com a
autora, o grau de efetividade da abordagem artística vai depender de diversos
fatores, por exemplo, vai depender da habilidade do artista, da estética do
trabalho, da sensibilidade étnica, dos recursos, da reação das vítimas, dentre
outros.
Portanto, há a necessidade de se
diferenciar a função da arte como arte e arte como instrumento para a
Construção da Paz. Para Cohen a arte como arte é capaz de provocar uma reação a
partir de “experiências estéticas”, logo, corroborando com as teorias estéticas
de diferentes culturas na Construção da Paz, pois a arte como instrumento nessa
área se ampliará e abordará as experiências coletivas de culturas e sociedades.
Tendo como base a concepção de “experiência estética” como a apreensão humana preconcebida
de tudo no mundo, por exemplo, da arte. Deste modo, a apreensão estética depende
de uma mensagem – uma imagem, um som, uma textura, etc. – e de um receptor dessa
mensagem.
Sendo assim, Cohen afirma que a
arte tem a capacidade de estabelecer comunicação entre partes conflitantes e
nem sempre através de expressões verbais, fazendo-as compartilhar sentimentos e
memórias; essa conexão entre as partes conflitantes tende a colaborar para a
Construção da Paz de forma não coerciva, proporcionando uma alternativa para a
transformação da dinâmica do conflito. Porém, nota-se também que a estética do
trabalho artístico nem sempre é voltada para a paz, como as performances teatrais
dos colonizadores que apresentavam os nativos como seres inferiores.
De acordo com Cynthia Cohen, os
projetos artísticos e culturais empregados para a Construção da Paz colaboram efetivamente
para a transformação de conflitos ao serem direcionados para o fortalecimento
das comunidades oprimidas através de técnicas de resistência não violenta, o
estabelecimento da comunicação de forma positiva entre inimigos, a atração da
atenção de atores externos para violações de direitos humanos em determinados
locais; além de diversos outros direcionamentos.
Não obstante, Cohen fala que
ainda há muitos desafios para a consolidação da abordagem artística, sendo os
principais deles a redução de danos nas tentativas empreendidas e a composição
de equipes de agentes transformadores realmente capacitados em usar a arte em
estratégias de Construção de Paz.
Por isso, tendo em vista o
expressivo aumento dos conflitos ao redor do mundo e a falência das abordagens
tradicionais de segurança, a autora propõe a procura por soluções criativas, considerando
as artes como um instrumento viável de contribuição positiva para as complexas estratégias
de Construção de Paz.
Muito bom! A arte pela arte já carrega em si o seu potencial transformador, tomada estrategicamente, em prol da construção da paz, transcende!!!
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